Formula secreta para ganhar tempo? Descubra como no Alentejo
“Não corras tão depressa, a vida faz-se caminhando”. Eram estas as palavras do meu avô, que, de forma descontraída, parecia ter todo o tempo do mundo. Teria poderes mágicos, ou estaria só a agir de acordo com a sua geração?
Tic-tac! Soam os ponteiros do relógio. Num compasso certo e embalados por um ritmo que nos pode parecer mais calmo ou frenético, lá vão eles percorrendo cada hora do dia. E se pudéssemos juntar um pouco mais? E se pudéssemos carregar num botão e parar? Seria isto possível? Acredito que sim.
1440 Minutos compõem o nosso dia. Verdade seja dita, maior justiça não há. Dispomos todos exatamente das mesmas 24 horas. Nem mais, nem menos. Uma medida uniforme, que nos relembra que somos todos iguais e que todos temos as mesmas oportunidades a cada novo amanhecer. É nesta equação complexa que entra o Alentejo. Gestão de tempo não é mais do que a gestão da nossa própria vida.

Serra de Ossa #Alentejo
Nasci e cresci nesta região, o que faz de mim uma orgulhosa alentejana. Habituei-me a contemplar o decorrer dos dias e a aproveitar a calma com que são envolvidos. Talvez por isso, gosto de ordem, rotina e que tudo se desenvolva com relativa quietude. Relembro com saudade, as tardes soalheiras que passava com os meus avós. Não havia internet, redes sociais, ou qualquer outro consumidor deste bem tão precioso, o tempo. Guardo na memória as conversas interessantes, os risos e um carinho desmedido que não era dado a correr. Era um tempo de qualidade, que não era absorvido pelas vidas perfeitamente fictícias, espelhadas numa qualquer página de Instagram. Considero que este é um dos nossos principais erros. Se contabilizarmos todos os minutos que passamos a divagar pelas redes sociais e utilizarmos esses mesmos minutos a fazer algo por nós, o sentimento de realização será enorme. No Alentejo, ainda se preserva a cultura de falar olhos nos olhos. Isto firma os laços entre as pessoas e faz-nos sentir mais produtivos e ligados ao que realmente importa.
Sei, que ao contrário de muitos na minha geração, fui afortunada com esta serenidade. Queria ter um botão do tempo para voltar para trás, mas já que não o posso ter, talvez lhe consiga passar alguns dos ensinamentos. Os mesmos que os meus avós me transmitiram. Uma vida calma e tranquila pode ser grande parte do que procuramos, para sermos realmente felizes.
O quê que mudámos na nossa geração que nos consome tanto tempo? O quê que nos provoca tanta insatisfação e frustração? Nunca ouvi os meus avós falar da agenda lotada a que tinham de dar resposta. Trabalhavam de sol a sol, enquanto jovens, mas isso não os fazia esmorecer. Cantavam, dançavam e viviam a vida de uma forma plena e feliz. A paz e equilíbrio que me transmitiam eram de uma dimensão sem igual. Creio que é na terra onde viviam que está a resposta.
Faz-me, por isso, confusão a falta de tempo de que todos nos queixamos. Se continuamos a ter o mesmo tempo porquê que aumentámos as reclamações? Provavelmente, este é mesmo o maior mal da nossa geração. Bem sei, que o amontoado de tarefas é infindável, os compromissos inadiáveis e esta necessidade de chegarmos a todo o lado pode chegar a ser sufocante.
Normalmente, o Alentejo está associado a uma certa preguiça ou falta de energia. Dizem que os nossos dias são vagarosos e que temos sempre muito tempo para fazer tudo. Bem sei, que sou alentejana, e, talvez esteja a puxar a brasa à minha sardinha, mas devo dizer-lhe que é absolutamente mentira.
Aqui, os dias começam bem cedo, não fosse o sol do Verão tão escaldante e pouco convidativo a passeios no exterior. Já diziam os antigos “Levantar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”. Considero esta uma das regras fundamentais para ganharmos alguns minutos no nosso dia. Observar o nascer do sol enche-nos de esperança, sentimo-nos revigorados e prontos para arrancar para mais uma jornada. É no raiar do dia, que o ar é mais fresco, o aroma dos campos mais intensos e as cores tão vibrantes que nos enchem o olhar.
No Alentejo não sofremos com as filas de trânsito e atravessar uma cidade como Évora, não demora mais do que 15 minutos. Um paraíso, não é? Quanto horas do seu dia são passadas no trânsito? Quantas horas protesta com os outros condutores, que inevitavelmente estão a passar pelo mesmo problema? Começar o dia no Alentejo não implica essa gestão. Há tempo para contemplar o que nos rodeia e iniciar de forma calma.
Ao contrário do que acontecia com os meus avós, que faziam uma coisa de cada vez, dedicando-lhe a sua máxima atenção, nós, hoje em dia, temos sempre milhares de atividades para ocupar os nossos dias. Deixámos de ter espaços vazios. Alentejo significa poder parar. Poder ouvir os pássaros a cantar, o bater das folhas nas árvores, os chocalhos das ovelhas que pastam nos campos. Aqui, as crianças não necessitam de ter muitas atividades extracurriculares que preencham o seu tempo até que os pais consigam chegar. Há mais brincadeiras e menos compromissos. Há minutos de qualidade e perfeita reunião familiar.
Ganhar tempo é desacelerar. Tirar uns minutos e não fazer nada. É sentir o momento presente e disfrutar com todos os sentidos. Ganhar tempo na nossa vida é aproveitar a viagem de carro até casa e contemplar o pôr do sol. O tempo, que nos queixamos não ter, não é pouco, nós é que não o sabemos aproveitar. Se quiser descobrir a magia de uma vida serena venha até às planícies do Alentejo. Sinta na pele a calma alentejana, que cheia de energia, contagia todos os que aqui chegam.